O que deu errado?
O que deu errado é que não disputamos o Campeonato Brasileiro como se deve disputar um campeonato, com tensão e disputando cada jogo como se fosse uma decisão. Tivemos muitas contusões porque nos doamos inteiramente na Copa do Brasil e pagamos o processo.
Qual a sua parcela de culpa no processo que deixou o time à beira do rebaixamento?
Tenho responsabilidade. Culpa? Não me sinto culpado. Você pode se sentir culpado quando erra em uma coisa grave. O que seria grave? Se eu não tivesse pago os salários. Os jogadores têm vida particulares que dependem dos seus salários. E isso poderia influenciar no campo. A gente reforçou o elenco. O que o presidente tem de fazer? Frequentar, dar apoio e administrar o clube com honestidade e competência, pagar as contas e dar atenção ao futebol. Foi isso que eu fiz.
Mas o que senhor faria de diferente?
Hoje eu me sinto mais seguro, mais preparado, mais experiente. Eu profissionalizaria alguns departamentos. Tive a infelicidade de perder três pessoas chaves na minha administração, o diretor financeiro, que pediu afastamento, e dois vice-presidentes. Essas pessoas eram profissionais nos seus pontos chaves. Esses profissionais deixaram de participar da nossa administração. Você tem que estruturar melhor o marketing. Esse foi o ponto que errei. A gente devia ter profissionalizado o marketing. É o que estamos fazendo agora. Eu tinha um diretor conselheiro, mas a gente preferiu mudar. Encontrei um clube com problemas estruturais, financeiros, estava engessado. Eu tinha uma obrigação de diminuir despesas, cortar pessoa. Fiquei engessado no primeiro ano. Tínhamos um problema de caixa. No segundo ano, investimos bastante. Tirando essa adversidade do Brasileiro, acho que fizemos um bom trabalho.
O que o senhor poderia ter feito de diferente no futebol para evitar essa situação?
É difícil falar. O que eu poderia ter feito? Chutar a bola no gol. Eu mantive a comissão técnica, os jogadores que eram importantes, fiz as contratações, paguei salários. Acho que faltou sorte.
Uma das críticas mais comuns da torcida é que o senhor é omisso. O que pensa disso?
Não me sinto omisso. Tenho minha personalidade, sou uma pessoa que confia na minha equipe. O Palmeiras é muito grande para você ser um ditador, querer fazer tudo sozinho. Todos os ex-presidentes foram criticados.
Aceito críticas, mas não faltei com minha responsabilidade. Vou a todos os jogos, nunca faltei a nenhuma reunião, só viajei pelo clube.
Toda tragédia tem seu vilão, alguém que é crucificado, que entra para a história. Teme que seja o senhor?
Eu vou ser o mais atingido, é claro. Quem está no olho do furacão? O Tirone. Quem está sendo ameaçado? O Tirone. Então, acho que o Tirone é prejudicado. A torcida está triste, mas tenho ainda esperança. O que quero daqui para frente? Que o Palmeiras faça três grandes partidas. Pelo menos a gente mostra que está no caminho certo.
Teme o que pode acontecer no caso do rebaixamento?
É claro. Tenho uma preocupação. Mas espero que o palmeirense sorria nesses últimos três jogos. Nada é impossível.
E tem medo pelo senhor? Por questões de segurança?
Medo não, mais receio. Não quero que meu clube seja degradado, que o elenco seja ameaçado. Tenho diretores que são criticados, mas não têm culpa. Quem faz gol é o time, quem comanda o time é uma comissão, quem paga o salário é o presidente.
E que tipo de ameaças o senhor está recebendo?
Ah, o "Tirone vai morrer". É isso. Ameaça de morte é caso de polícia. Eu tenho que ficar tranquilo, a polícia que tem que correr atrás.
Mas chegaram a ligar para sua casa? Ameaçaram seus filhos?
Ligar não, mas mandam mensagens [nesse momento, o presidente pega o celular]. Meu filho não tem nada a ver com isso, está sofrendo mais do que eu. Mas minha família está à parte disso. Quem está sendo ameaçado sou eu. Não tenho levado uma vida normal porque não dá.
O que mudou na sua rotina?
Deixei de me dedicar a certas coisas particulares, deixei meus negócios de lado. Não vou a vários eventos que gostaria de ir. Vou da casa para o clube, do clube para casa. Lógico que às vezes tenho que me alimentar, vou comer alguma coisa fora. É normal.
O senhor ainda tem prazer em dirigir o clube?
Ser presidente de clube depende da personalidade da pessoa. Tem ex-presidentes que rezavam para terminar o mandato. Eu, sinceramente, penso que há coisas boas. Neste momento, as desagradáveis são muito grandes. Mas depois da Copa do Brasil, foi muito bom. É claro que administrar o que não é seu, quando as coisas não dão certo, todos se consideram donos. Tem torcedor que manda mensagem: "devolve meu Palmeiras". Estou tentando fazer tudo bem intencionado, com amor ao clube. O que não é bom quando a bola não entra, o time não joga bem.
Mas o senhor reza para acabar seu mandato?
Não, por que eu rezaria? Faltam dois meses para acabar meu mandato. Quando eu comecei, sabia que seriam dois, fiz compromisso por dois anos. Quero encontrar um caminho melhor para o clube do que o atual. Vou terminar meu mandato trabalhando pelo clube.